sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Bem na foto.

Telefone toca, ramal da diretoria. Do outro lado escuto a voz do Egberto, engenheiro que "tocava" o departamento de pessoal de uma grande empresa:

- “Gaulia?...Olha só... não sou vaidoso, mas nesta prova da próxima revista a minha foto... sabe? Veja...não sou vaidoso, mas a foto precisa ser outra”.
- “Bom dia, Egberto. Como vai?Sem problemas,vamos fazer outra foto, ok? Chamo o fotógrafo e fazemos na sua sala ainda hoje?”.
- “Gaulia, veja bem, essa coisa de vaidade (isso mesmo terceira vez) não é comigo... amanhã, pela manhã, por favor, chegue mais cedo, pois estarei com um terno melhor do que o de hoje e terei uma barba bem feita. Eu acho que fica melhor, uma foto minha mais bonita, meu cabelo não ficou bom nessa aqui...”.

Não tem jeito. Ser humano é assim. Nós somos assim. E comunicação sempre mexe com os egos. O engraçado é que poucos admitem (taí um desafio, entender as emoções na corporação). E é verdade mesmo que tem muita gente que quer é aparecer – pois descobre que aparecendo na “mídia” organizacional fica importante, impressiona a equipe, mostra valor, parece que tem boas relações e se destaca. Ao invés de uma scomunicação de boas práticas, bons exemplos, com equipes em destaque, surge o aparecer por aparecer, com líderes estampados a toda hora nas fotos. Egos...

Tem gente, mais engraçada ainda – bons gestores até, que sempre aparecem com suas equipes mas naquela foto "unidos venceremos": todo mundo perfilado, lado a lado. Chefes no meio e demais profissionais pelos lados. Sorrisos, polegares levantados – tudo vai bem!

Pegue um jornal ou uma revista corporativa, empresa pública ou privada, estão lá essas fotos. Iguais. Todo mundo enfileirado. Muitas vezes é tanta gente que não dá pra ver o último lá atrás. Olha, isso não é fazer uma boa comunicação interna, ok? Mas, cada empresa tem seu ritmo e seu tempo de aprendizado. E muito comunicador não vai dar opinião, vai deixar do jeito que está, pois tem medo ou receio de falar: "Moçada, desta vez vamos fazer diferente, tentar uma coisa nova?Senão fica tudo muito igual e comunicação é processo, na próxima entram outras pessoas, fazendo outras coisas...podemos completar com fotos na Intranet da empresa". Dá pra fazer diferente?

Mas voltando aos egos e egotrips.Trabalhar com comunicação é trabalhar com vaidades, orgulho. Tem que ter jogo de cintura, muita psicologia humana, pois, principalmente para aqueles que “não são vaidosos” é que se deve redobrar os cuidados e a atenção. Cuidar para que o equilíbrio entre a chapa branca e a alta hierarquia da empresa tenha espaço também para a base, para a turma da operação, da linha de frente e assim se componha uma publicação onde realmente todos estejam representados. Não que todos irão aparecer, mas que haja equilíbrio.

Já vi jornal com três fotos de um mesmo diretor. Cansa isso, não é não? Imagine: “Aqui todos somos um só time” e na edição seguinte do jornal, da revista lá vai, só dá o chefe ou aquela figura carimbada - que muita gente chama de “peixe”, pois é o queridinho, o popular e que está sempre dando força para a comunicação interna e acaba aparecendo além da conta.

Mais uma vez, quando lidamos com comunicação estamos no mundo das emoções. Enfim, é assim mesmo. Ahn, e o Egberto? Ele saiu muito bem na foto (pediu cópias para a família e uns exemplares a mais – tudo de maneira discreta, claro). O fotógrafo acabou levando uma maquiadora básica e realmente o cara saiu bem na foto.

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