sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Entusiasmo? Dá pra medir?

Essa pergunta me veio à cabeça depois após minha palestra no Congresso da UDOP, em Araçatuba. Uma das perguntas que surgiram na sala era como a comunicação interna poderia gerar resultados práticos para o negócio. Reverti a questão retornando com outra pergunta: se não existisse comunicação existiria o próprio negócio?

Entendo que a exigência é cada vez maior para mensurar o ROI da comunicação interna. Mas quando um time está realmente jogando para ganhar(seja no vôlei, no basquete ou no futuebol por exemplo) em sintonia, integrado, em conjunto e a gente percebe a vibração e o entuisiasmo no rosto dos atletas, isso não é a comunicação no seu ápice?

A pergunta, não deveria ser então: como trazer este espírito para dentro da organização? Para dentro da empresa, da repartição pública? Porque é muito neurótico trabalharmos mais de oito, nove, dez horas por dia ficando no escritório mais tempo do que na nossa própria casa vivenciando um ambiente onde a comunicação interna é difícl, é cheia de barreiras, não é mesmo?

Como ficamos sem um técnico a nos motivar, dar os direcionadores, explicar a estratégia ali no face a face, ao lado do campo? Como ficamo sem um capitão, um líder na quadra? Como ficamos sem o compartilhar das próximas jogadas entre nossos colegas do time? E por fim, como ficamos sem o entusiasmo necessário para diante de um placar em desvantagem, reverter o jogo e vencer?

Portanto, dá para se mensurar o bem maior que a comunicação pode gerar que é o entusiasmo, a vibração, o desejo de realizar? E entusiasmo não se verifica em tabela de Excell, não aparece nem em pesquisa quatitativa. Porque é como uma "paixão". Dá pra mensurar uma paixão? Talvez muitas empresas não permitam falar de paixão no seu dia dia, por entender que negócio não rima com paixão. Mas, ao contrário, é a emoção o maior motor de um negócio. Ser apaixonado pelo que se faz - é muito mais do que um slogan publicitário, podem acreditar.

E sem comunicação interna permanente, transparente, confiável e sistematizada não há caminho racional para despertar a paixão por fazer acontecer. Para gerar a energia que faz de um grupo de profissionais um time vitorioso. E não mais um bando aguardando o contra-cheque no final do mês.

Comunicação é o combustível da paixão pelo fazer, pelo realizar, pelo transformar.

sábado, 27 de junho de 2009

Pra garantir o controle?

Não há mais espaço para o sarcasmo, hipocrisia ou o baile de máscaras dentro das empresas. Uma geração chamada " Y " está chegando ao mercado de trabalho e vai quebrar todas as antigas regras e hierarquias. Essa geração já nasceu digital. Não conhecem um mundo sem a internet, sem o Google, sem o MSN e as comunidades de relacionameno. Publicam suas opiniões e se conectam em ondas de influência e interlocução infinitas.

Essa geração não vai entender organizações fechadas - sem voz interna, sem agilidade de respostas, onde o mural de avisos virou paisagem pois é um amontoado de notas velhas e inúteis. Ou onde a intranet é um amontoado de dados sem espaço para a interatividade.

Com essa geração não vai haver uma "rádio corredor", caso a comunicação na empresa seja de mão única. Ela vai ser a espiral permanente de notícias para o mundo. Dos corredores dos escritórios sisudos para fora, com direito à vídeo feito pelo celular e publicado no You Tube. Incontrolável, mesmo que alguns líderes queiram controlar como fazem com a edição do "jornalzinho" interno (aquele que nunca tem uma frequência de publicação respeitada porque tem sempre uma "última" mexidinha no texto, só para garantir o "controle".

domingo, 19 de abril de 2009

Sequestro dos chefes?


Fiquei abismado com as notícias sobre o sequestro de diretores executivos por trabalhadores, na França, como forma inédita de protesto contra demissões. Ficaram presos em suas salas ou dentro das fábricas os executivos das poderosas multinacionais Sony, 3M, Caterpillar e de outras empresas menores como Fulmen e Scapa.

Considero que a nova forma de protesto passa da conta, apesar de ser grave a crise e as demissões serem muitas vezes desumanas ou sem qualquer explicação, transtornando a vida de milhares de profissionais e suas famílias.

Contudo, não posso deixar de registrar (conforme matéria publicada no Valor Econômico de 16 de abril de 2009) que, todos esses executivos tinham em comum "o fato de evitarem a imprensa". E eu acabo concluindo que internamente estes administradores também não eram fãs do diálogo. Mas nada justifica a violência. Um erro nunca justifica outro.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Saudáveis.

Um conhecido meu, redator -chefe de uma revista, disse que as "empresas estão doentes". Todas. Nenhuma escapa. Bom, olhando o cenário e o que foi plantado, minha tendência é concordar. Mas, peraí: as empresas somos nós! Quem faz a "empresa", a "companhia", o "negócio" e "a marca"? Uma entidade do além? Não, são as pessoas.Nós mesmos.

Portanto, associação lógica: as pessoas estão doentes. Bom, olhando o cenário e o que foi plantado, minha tendência é concordar. Mas, peraí, repetindo: são nossas as escolhas de desumanizar as relações. Nós fazemos parte. Seja para defender nossos empregos, para defender nossos privilégios, nossos pequenos feudos mentais ("Antes meu companheiro na rua do que eu", "Deixa eu ficar quieto no meu canto", "É realmente para que tanta gente por aqui?"...).

Ou seja, este post é rápido (tenho uma reunião daqui a pouco para falar sobre "sustentabilidade e comunicação interna") e tem o intuito de questionar nossas atitudes, nossos comportamentos. Se alguma coisa está fora do lugar, quem responde por isso? Se a empresa tem pontos negros e relações difíceis - quem responde por isso? Se companhias estão doentes - quem é o responsável? Ora, se a bola está quicando...a bola é nossa! A resposta está com cada um de nós, no dia a dia, nas pequenas justificativas, nas pequenas concessões e nas pequenas injustiças...tudo colaborando para se colher uma tempestade lá na frente (ela já chegou, ok?).

Então? Se estamos doentes, que tal pensar em SAÚDE? Se cada um melhorar como ser-humano, o ambiente melhora na hora. Podem apostar! Não sou sonhador (só um pouco). Rs...tenham um bom dia!

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Diálogo construtivo.

Quando duas pessoas se encontram para fazer negócios, elas utilizam antes de qualquer insumo, documento escrito ou mercadoria de uma dimensão exclusivamente humana: a articulação de palavras. E é a através desta articulação que começam a interagir, a se conhecerem melhor, a se entenderem e a encontrarem um objetivo comum entre as duas.

Assim, da palavra articulada, surge o primeiro ato de um encontro em busca da ação comum (comunicação) para atingir soluções, objetivos e metas compartilhadas. E é esta mesma lógica que deve imperar em qualquer organização, como registram de maneira exemplar Larry Bossidy e Ram Charan:

"Um diálogo consistente torna uma organização eficaz na tarefa de coletar informações, entende-las e transforma-las para produzir decisões. Ele incentiva a criatividade – a maioria das inovações e invenções está latente em um diálogo consistente. No final, ele cria vantagem competitiva e valor para o acionista." (Larry Bossidy, Ram Charam, 2005).

Em qualquer empresa, pública ou privada, portanto, sem a comunicação não há negócio, uma vez que não há relacionamento possível. Só para registrar mais uma vez o óbvio.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Bem na foto.

Telefone toca, ramal da diretoria. Do outro lado escuto a voz do Egberto, engenheiro que "tocava" o departamento de pessoal de uma grande empresa:

- “Gaulia?...Olha só... não sou vaidoso, mas nesta prova da próxima revista a minha foto... sabe? Veja...não sou vaidoso, mas a foto precisa ser outra”.
- “Bom dia, Egberto. Como vai?Sem problemas,vamos fazer outra foto, ok? Chamo o fotógrafo e fazemos na sua sala ainda hoje?”.
- “Gaulia, veja bem, essa coisa de vaidade (isso mesmo terceira vez) não é comigo... amanhã, pela manhã, por favor, chegue mais cedo, pois estarei com um terno melhor do que o de hoje e terei uma barba bem feita. Eu acho que fica melhor, uma foto minha mais bonita, meu cabelo não ficou bom nessa aqui...”.

Não tem jeito. Ser humano é assim. Nós somos assim. E comunicação sempre mexe com os egos. O engraçado é que poucos admitem (taí um desafio, entender as emoções na corporação). E é verdade mesmo que tem muita gente que quer é aparecer – pois descobre que aparecendo na “mídia” organizacional fica importante, impressiona a equipe, mostra valor, parece que tem boas relações e se destaca. Ao invés de uma scomunicação de boas práticas, bons exemplos, com equipes em destaque, surge o aparecer por aparecer, com líderes estampados a toda hora nas fotos. Egos...

Tem gente, mais engraçada ainda – bons gestores até, que sempre aparecem com suas equipes mas naquela foto "unidos venceremos": todo mundo perfilado, lado a lado. Chefes no meio e demais profissionais pelos lados. Sorrisos, polegares levantados – tudo vai bem!

Pegue um jornal ou uma revista corporativa, empresa pública ou privada, estão lá essas fotos. Iguais. Todo mundo enfileirado. Muitas vezes é tanta gente que não dá pra ver o último lá atrás. Olha, isso não é fazer uma boa comunicação interna, ok? Mas, cada empresa tem seu ritmo e seu tempo de aprendizado. E muito comunicador não vai dar opinião, vai deixar do jeito que está, pois tem medo ou receio de falar: "Moçada, desta vez vamos fazer diferente, tentar uma coisa nova?Senão fica tudo muito igual e comunicação é processo, na próxima entram outras pessoas, fazendo outras coisas...podemos completar com fotos na Intranet da empresa". Dá pra fazer diferente?

Mas voltando aos egos e egotrips.Trabalhar com comunicação é trabalhar com vaidades, orgulho. Tem que ter jogo de cintura, muita psicologia humana, pois, principalmente para aqueles que “não são vaidosos” é que se deve redobrar os cuidados e a atenção. Cuidar para que o equilíbrio entre a chapa branca e a alta hierarquia da empresa tenha espaço também para a base, para a turma da operação, da linha de frente e assim se componha uma publicação onde realmente todos estejam representados. Não que todos irão aparecer, mas que haja equilíbrio.

Já vi jornal com três fotos de um mesmo diretor. Cansa isso, não é não? Imagine: “Aqui todos somos um só time” e na edição seguinte do jornal, da revista lá vai, só dá o chefe ou aquela figura carimbada - que muita gente chama de “peixe”, pois é o queridinho, o popular e que está sempre dando força para a comunicação interna e acaba aparecendo além da conta.

Mais uma vez, quando lidamos com comunicação estamos no mundo das emoções. Enfim, é assim mesmo. Ahn, e o Egberto? Ele saiu muito bem na foto (pediu cópias para a família e uns exemplares a mais – tudo de maneira discreta, claro). O fotógrafo acabou levando uma maquiadora básica e realmente o cara saiu bem na foto.

sábado, 10 de janeiro de 2009

"Turismo industrial"


Quando alguém vai até a sua casa é porque foi convidada e realmente deseja ir até lá, não é mesmo? Não conheço ninguém "obrigado" a visitar a casa dos outros. Uma visita é sempre assim: quem escolhe ir é porque tem alguma afinidade ou quer ampliar seu relacionamento.

É a mesma coisa quando escolhemos um restaurante para jantar e chegamos por lá lemos uma placa com os dizeres: "Visite nossa cozinha" - já viu uma dessas? Ou quando escolhemos um roteiro turístico:queremos conhecer melhor lugares do nosso interesse. Lugares que nas nossas cabeças (e nossos corações) podem ser fascinantes, podem ter histórias para nos contar, podem ter descobertas e serem feitas. Enfim. Um visitante é uma pessoa que tem toda atenção do mundo voltada, naquele momento especial da visita, para o lugar de destino.

Olha que beleza de oportunidade para empresas fazerem seus relacionamentos mais próximos com públicos de interesse específicos. Para que as empresas se aproximem de estudantes, líderes comunitários, governo, clientes, fornecedores...uau! Chamo isso de "Turismo industrial" e considero um programa institucional de visitas uma ação estratégica das mais valiosas.

Algumas empresas já se deram conta de que o turismo industrial é uma opção de comunicação, relacionamento e construção de imagem corporativa, com investimentos razoavelmente reduzidos quando comparados a outras ações de relacionamento ou mesmo de marketing. Uma ferramenta valiosa. A fábrica de O Boticário por exemplo, lá em São José dos Pinhais (Paraná) é um desses exemplos - seu programa de turismo industrial é uma experiência inesquecível na "fábrica de magia e sonhos".

A Vale também possui um programa assim: bem elaborado, com requintes de detalhes como o conhecimento das datas de aniversário dos visitantes para que, se um visitante estiver numa das unidades ele receber os cumprimentos da equipe (com direito ao tradicional "Parabéns pra você"). Empresas assim sabem que cada detalhe é importante e não custa muito: uma pessoa simpática e preparada na recepção e um guia igualmente amistoso, um vídeo de apresentação geral com dicas de segurança, uma mostra geral do processo industrial e o contar das histórias que fazem a "marca" ser admirada. E pronto. Uma lembrança ou um brinde para encerrar, então, e o visitante está cativado. Afinal, quem tratar mal um visitante em sua prórpia casa é um péssimo relações públicas não é?

Na foto acima, minha visita à mina da VM, em Vazante, MG, com meu devido EPI - equipamento de proteção individual, item de segurança obrigatório.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Poesia nascida do fogo.


Ano novo, tempo de jogar fora a papelada velha. Aí, a gente encontra cada coisa...

Achei um Jornal da CSN de outubro de 2000 onde li uma poesia minha do tempo em que era analista de comunicação naquela siderúrgica. A poesia foi resultado de uma visita noturna à usina para uma reportagem sobre a manutenção preventiva no Alto-Forno 3.

Compartilho, para vocês sentirem o clima - sempre atual, pois as operações continuam muito parecidas e as pessoas podem mudar, mas o empenho de algumas equipes sempre faz uma enorme diferença:
"Já passa da meia-noite.
Chove torrencialmente.
É madrugada.
Enquanto a cidade inteira dorme, centenas de almas trabalham.
Surgem caminhando, de bicicleta ou pulam do ônibus.
Uniformes, marmitas, pensamentos diversos.
Aqui estão.
Entram na usina.
Laminação, coqueria, sinterização, alto-forno.
Mais uma noite.
A peãozada tem cara, coração.
Raça. Cansaço. Força. Sorriso.
Dezenas de operários circulam entre pesadas peças desmontadas.
Manutenção preventiva.
Tem fumaça, fogo.
Tem óleo, calor e tem a noite.
As horas vão avançar e eles estarão lá.
Longe dos escritórios limpos e da vista para o mar.
São Adilsons, Otílios, Severinos e tantos outros.
Todos ilustres anônimos.
Não saem nos jornais, não aparecem na televisão.
Mas têm um brilho único.
No meio do vulcão mecânico resolvem, consertam, conferem, verificam, lutam.
Quais serão seus sonhos, seus medos, suas esperanças?
As horas custam a passar.
As famílias estão longe.
Alta madrugada.
Solidária na solidão.
Os homens se cumprimentam.
O serviço tem que ser feito.
Bem feito.
Impecável.
A usina não é só ganha-pão.
É parte da gente.
E estes homens são o sangue dessas máquinas gigantes.
Estão lá, sempre. Seja noite ou seja dia.
Com ou sem alegria.
A coisa toda funciona assim.
De vez em quando se parecem com fantasmas, exaustos.
Imundos.
Mas são heróis.
Brava gente.
Guerreiros sem exército.
Soldados sem bandeira, só coragem, competência.
É a história que se repete a cada novo turno.
Uma história que merece ser contada, valorizada.
Merece respeito.
Ser humano faz a diferença...
O resto é estatística, conversa de intelectual.
O dia vai nascer e nova turma vai entrar, serão outros e outros e outros.
No meio das engrenagens.
E dos músculos gastos virá a riqueza.
Do tempo entregue virá o futuro.
Da dedicação virá o crescimento.
E quem vai lembrar disso tudo?
Quem?